sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

O Algo Para o Alguém - Victor Viana



2002

Eu me lembro do seu beijo,
tinha gosto de doença.

Resto de rostos (todos mortos).
Rostos com gostos (tudo amargo).

O caminho das lembranças passam por um fio no chão. Parece posto assim, mas pra fazer cair que para indicar a direção.

Rostos mortos (todos restos).
Rostos amargos (Tudo com gosto).

Vou queimar tudo, de lençóis a pelos pubianos.
Não foi um caso, nem um romance, nem rolo ou lance.

Foi só um mero engano.

Victor Viana
***

 2002

Você era perfeita como uma beleza, mas também como uma tristeza.
O jeito sem luz com que mexia o cabelo, encostada em mim de joelhos, era o ponto alto de seus esforços pra ser perfeita como uma beleza, mas também como uma tristeza.

Sua boca era carne de pera que eu mordia com dentes de fogo.
Mas suas palavras: Cacoetes, vícios de linguagens, lugar comum e frases feitas.

Gostava de me chamuscar no abrir e fechar de pernas. Mas suas reflexões:
"O amor é uma maçã".

 Plantei um pé de sono e à sombra dele eu dormi a vida inteira...

Victor Viana
***

2000

Era triste.
Era um silêncio sem paz.
Eu estava deserto no meio do carnaval.

Havia uma boca, e as curvas da mulher. Não eram você. Mas tinha prazer

Tudo de brinquedo comprado em camelô. E quebra fácil, fácil.... Era triste.
Era triste o tempo passado em plumas e espumas flutuantes no ar etílico do carnaval... Com prazer... Mas sem você.

Victor Viana
***

2001

Desaba a chuva.
O ombro é um escombro.
E chamo a tua vida que no sempre aquele até logo.
E quem sabe te vejo.
Ando e olho.
Olho para tudo quanto é lado, e nada.

A chuva (sempre ela) enorme desaba.

Trovões rola lá nos montes longes. E eu de tão molhado derramo-me.


Victor Viana
***


2002

Essas folhas sobre a rua e a chuva empoçam os cantos.
Entrei em seu território encantado, encantado estava em pranto.
Nada me anima a ir além. Além do rés do chão. Chão que prende a ação. Da inércia à implosão.

Meu peito não suporta mais o frio do chão.

Victor Viana
***


2002

Gira carrossel.
Cavalga o corcel.

Gira, gira carrossel.

Estou tão cansado.
Uma hora tinha que estar cansado.

Não há ninguém nos outros cavalos.
E gira, gira carrossel.

Gira, gira tambor de revolver. Gira.


Victor Viana
***


2002

Acorda, acorda e mia.
Rodeia, rodeia e encosta-se.
 Faz de mim um objeto submisso de sua vontade.
Afias as navalhas dos dedos na couraça da minha alma.

Alma?  Por que alma?

No escuro não enxergo.
Tateio, apalpo sedento (sede nas mãos).
O corpo, o corpo Marilia, o corpo.
O corpo que nu revela o quão somos cômicos.

Ah, tudo por tudo. Ok?

Marilia mia...Marilia!

E reconstruamos os alicerces que eu abalei.

Victor Viana

***


2002

Eu navego nos minutos
e me esqueço de feito às roupas que tirei (e permanecem no chão).

Travando a língua no palácio de carne  busco a saliva que rega o beijo de quentura.

Eleva os dentes até a mordida forte nos sulcos dos lábios.
Abre-se as narinas, e os quadris se contorce. As mãos buscam o que não está ao alcance da mão.
Ondas e ondas. Tudo ao mesmo tempo.


Fogos estouram no fim da noite minutos antes da luz sóbria de um cigarro.


Victor Viana
***


2002

O choque entre dois carros.
E toda aquela gasolina que pode pegar fogo.

O choque entre dois olhos.
E todo esse combustível que pode pegar fogo.

Assim me arrasto entre a relva imaginaria do colchão no chão.

Victor Viana
***

2002

Escuta a avalanche de luz que desaba sobre a retina do espelho.
Do espelho rasgado de batom.

As horas passam na ponta de um punha cravado no aroma raro posto em frasco barato.

Não prenda toda a sua atenção em mim.

 Crava os dentes e as unhas no meu peito.
Sou o veneno neutro que transborda e lhe escorre pelos cantos da boca cansada.

Beijo a epiderme rósea dos seus seios. Pois poeira de estrelas lhe maquiam o rosto (mistério).
Pântanos onde se eleva as sombras do medo xucro.

Chegue, chegue e vem.
Vem me fazer um dengo.
Lhe trouxe um brinco,
que cobri de palavras doces
para aumentar o valor do mimo.

Victor Viana
***

2002

Pregos da cruz  em suas mãos como armas.
Bombas não são amor.
E o amor é...

Você sabe muito bem que sempre há um tiro que sai pela culatra.

Usa sempre pronomes errados.

"Não é sua vida. É nossa vida".

Cegos guiam cegos, feito aquela parábola dos Evangelhos.

E você.
E Nada.
As armas do destino, nada!

Entrego meus punhos para suas algemas.
Abaixo meus olhos para suas ordens.
Mas atenção! Não se esqueça!
Há sempre um tiro que sai pela culatra.

Victor Viana
***

2002

Desfolhada a margarida,
entulhado o jardim.

De anjos?

O quarto secreto do peito.
Eu em prantos?
Bombas atômicas... E nada!

A antiga saudade ainda intacta.

Ressequidas as pétalas caídas da margarida.
E você?
Bonita quase nua não se move.

Espectro, canção que comove desmancha-se sobre o sentimento ressurreto.

Victor Viana

***

2002

A onda do mar,
o manto azul.

Por que será?

Eu não gosto de estar aqui.
Mesmo você dizendo:
 “Tempo é dinheiro".

A onda do mar.

Cravo meus dentes na sua jugular.
Gosto de estar assim.
Mesmo você dizendo:
"Relaxa bebe".

A onda do mar,
o manto azul,
cobre-nos com raiva e pena.

Victor Viana
***

2001

Eu vinha antes do temporal.
desaba o mundo em minha caixa craniana.

Antes do sol, antes do mal, antes da dor.

Volte pelo mesmo caminho!
Traga afeto, sexo, carinho.

Eu.
Eu todo torto.
Torto por ficar parado no mesmo lugar,




                                                     SOZINHO,


No meio da multidão sem pena que nos entulha o caminho.

Victor Viana
***

2002

O pátio vazio.
Onde eu vou agora?
Agora que cheguei ao fim eu vou voltar.

Eu poderia falar  num idioma misterioso.
Mas...

Tombos e tombos. Eu tonto.

Onde eu vou agora?
Já rodei o mundo todo, já andei em círculos. No fim das contas é tudo a mesma coisa.

Victor Viana
***

2001

Quando cheguei (eu não sabia).
Eu tentando parecer esperto,
você ria.

Você não é a lua (a lua é fria).

A gente abraçado posando.
depois: "Pô. Cortaram nossas cabeças na fotografia".

Eu reclamando. Você ria.

O tempo muda os sentimentos. A febre baixando.
Um vislumbre de algo maior aquecendo-nos por dentro.

Um dia
tentei explicar.
Você?
Você ria.

Victor Viana
***

2001

Um raio corta o céu.
De oriente a ocidente,
no meio de tudo estou.

O mundo inteiro no meu cérebro,
e você longe, longe, longe, longe...
em outra galáxia.

(A vida no Vale Escuro)
Não temerás o pão amassado pelo diabo?

Eu me contento com o tic-tac do relógio,
e você longe, longe, longe... em outra galáxia.

Sou um perdedor, e as vezes gosto disso.

Victor Viana
***

2001

Boca beijando.
Aceitando minha vida com a sua.
Mãos acenando.
Aceitando a distância que mata.

Victor Viana
***

2001

Atravessando a rua na velocidade da luz,
e flashes estelares dos seus brincos brincam bem leves nas palavras ditas ao pé da orelha.

Há algo de seu em tudo.
Em tudo que toco ou sinto.

Com o globo nos ombros
e a rota dos astros nos olhos,
eu crio um mundo ideal para nós dois.

Victor Viana  
***

2001

Menina olhos sem mistérios (luzes de um bairro).
Beijo com amor seus labios secos,
sua carne firme.

Declarações de momento,
e um abraço morno...
que não interfere no mundo.

Estrelas mudas, pregadas no céu.

Na falta
de emoções maiores
nós
nos aceitamos.

Victor Viana
***

2001

Festa esquecida.
Poesia invadida.
Perdida.

Não.
Não era nós,
nem nós dois.

Festa acabada.
Canção ensone.
Sumida.

Sim.
sim, era nossa.
Muito nossa, a noite sumida.

Victor Viana
***



1999

Só assim,
por toda a minha vida.
Nunca me esquecerei de ti.
Tão fundo como um mar,
até o fim do mundo. se houver um fim.

Das ruas que se cruzam. Vidas.
Avenida feia e linda.

Só assim.
E seu corpo que não tenho.
Nos momentos que me lembro.
Tão imenso como um universo.
E ao não vê-la me disperso, Há tantos anos...
tantos enganos daqui.

Só assim, e assim tão só.

Por toda a minha vida.

Victor Viana

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